Ecologia e comportamento de um grupo de bugios-pretos alouatta caraya (Primates, Cebidae) em Alegrete, RS, Brasil

Abstract

No período de agosto/1989 a julho/1990 foram estudados aspectos da auto-ecologia e do comportamento de um grupo de bugios-pretos Alouatta caraya Humboldt, 1812, cuja composição variou de 15 a 17 indivíduos em uma mata seminatural (29° 37'S, 56° 17'W) localizada em uma criação de gado, Estância Casa Branca, Alegrete, fazenda de RS, Brasil. Foram coletados 37.855 registros de observação distribuídos em 2.980 amostras de varredura ou "scan" instantânea, totalizando 745 horas inteiras de contato direto com os animais. A amostragem total ou "ad libitum" também foi utilizada. Foram coletados 37.855 registros de observação distribuídos em 2.980 amostras de varredura ou "scan" instantânea, totalizando 745 horas inteiras de contato direto com os animais. A amostragem total ou "ad libitum" também foi utilizada. O grupo gastou, em média, 62% do seu período diurno diário descansando, 18% locomovendo-se, 16% alimentando-se e 5% em interações sociais. Picos de ocorrência das atividades descanso e alimentação foram observados ao longo do dia. A comparação dos padrões de atividades diárias entre as diferentes classes etárias indica que à medida que o animal cresce, ele descansa mais e locomove-se menos. Não-adultos, especialmente juvenis e infantis, gastam mais tempo que as outras classes em interações sociais, principalmente brincadeiras. Vinte e sete espécies vegetais foram utilizadas como fontes de alimento. Os bugios gastaram, em média, 61% de seu tempo de alimentação comendo folhas e peciolos, 6% caules, 1% cascas, 29% frutos e sementes e 3% flores. A composição da dieta variou mensalmente em decorrência da disponibilidade sazonal de certos itens alimentares. A composição da dieta das classes sexo-etárias foi semelhante. 0 grupo utilizou, em média, 7,7 espécies vegetais por dia (5,3 fontes de folhas e peciolos, 2,5 de frutos e sementes e 0,5 de flores), variando de 4 a 13 espécies/dia. Leguminosae foi a família mais explorada como fonte de alimento. A postura sentado foi utilizada em 62% dos registros de alimentação. A execução de um comportamento de termorregulação foi evidenciada pela utilização de diferentes posturas corporais relacionadas à temperatura ambiental durante o descanso. Alouatta caraya é tipicamente um quadrúpede, caminhando em 66% dos registros de locomoção. O grupo utilizou os dois hectares de mata disponível. A área central compreendeu 0,16 ha, os quais foram utilizados por, pelo menos, 70% dos dias de amostragem comportamental. A utilização diferencial das várias porções da mata foi explicada pela densidade dos recursos alimentares. Os bugios-pretos deslocaram-se, em média, 454 metros por dia (156 a 893 m/dia), dos quais, cerca de 408 m foram nas árvores e 46 m, no chão. As árvores utilizadas como dormitório apresentam, em sua grande maioria, diâmetro na altura do peito > 40 cm.