A Teoria das Situações Didáticas e a inclusão de estudantes com deficiência visual nos processos de ensino e aprendizagem do conceito de função mediados por um recurso lúdico

Abstract

Esta pesquisa tem por objetivo investigar as potencialidades e limitações da Teoria das Situações Didáticas para a inclusão de estudantes com deficiência visual nos processos de ensino e aprendizagem do conceito de função mediados por um recurso lúdico. Para isto, utilizamos, como fundamentação teórica, os pressupostos da Teoria das Situações Didática (TSD), proposta por Brousseau (1986, 1995, 1997, 1998, 2002), bem como a compreensão da ludicidade, inclusão e acessibilidade, sendo este último, um conceito transversal, para a construção do material didático denominado Caça ao tesouro, o qual possibilitou o estudo do conceito de função. O jogo Caça ao tesouro é composto por materiais e uma sequência didática, a qual foi construída com fundamentos na Engenharia Didática proposta por Artigue (1995, 1996) e envolveu as seguintes fases: análise preliminar; concepção e análise a priori; experimentação e, por último, análise e avaliação a posteriori. No contexto da fase de experimentação, realizamos a aplicação de duas versões do material didático em um colégio público do Distrito Federal que possuía estudantes com deficiência visual dentre os videntes e contamos com a participação tanto dos estudantes quanto dos professores da sala de recursos e da sala de aula regular que os atendiam, além de avaliações de materiais específicos por estudantes partícipes da experimentação da primeira versão do jogo e do Ensino Superior de uma instituição pública federal. Uma limitação que a TSD apresentou na elaboração da sequência didática se referiu ao processo de adaptação do estudante ao milieu, a princípio, isso feria os pressupostos da educação inclusiva que defendemos. Por este motivo, buscamos construir um milieu acessível que fosse ao encontro das necessidades que os estudantes possuíam e não o contrário. Assim, essa limitação acabou contribuindo para que pudéssemos aprofundar a releitura da TSD, pautando-nos na acessibilidade para dispensar a adaptabilidade. Destarte, os resultados apontaram a possibilidade de utilizar a TSD em uma perspectiva inclusiva, tendo como cerne a construção de um milieu acessível, pautado na valorização e ampliação dos canais de percepção, superando- se, portanto, o visocentrismo que permeia os processos de ensino e aprendizagem da Matemática. Asseveramos que essa ampliação dos canais de percepção pode favorecer não apenas os estudantes com deficiência visual, mas todos os demais estudantes da sala de aula regular, tendo em vista, que o conceito de função envolve outros conhecimentos matemáticos e que este pode ainda ser considerado algo abstrato para os estudantes, a manipulação e o tocar nos materiais para construir tabelas e gráficos e, a partir disso, representar as informações algebricamente, como forma de sintetizar as informações, pode favorecer a construção de um contexto inclusivo. Ademais, a teoria dos jogos, atrelada à TSD e à inclusão pode contribuir para a vivência da fase adidática da situação didática, isso por auxiliar na autonomia e, por conseguinte, na ação, formulação de hipóteses, comprovação dos resultados e construção de novos conceitos matemáticos.