O trabalho docente e o nó dialético gênero, raça e classe

Abstract

A tese possui como objetivo compreender as mediações do nó dialético gênero, raça e classe na constituição dos sentidos atribuídos para o trabalho docente de professoras e professores da Educação Básica da Secretaria de Estado e Educação do Distrito Federal (SEEDF). Para tanto, foram realizadas narrativas escritas e entrevistas narrativas com professoras e professores da SEEDF. Na análise, a partir do materialismo histórico-dialético, emergiram três categorias: i) Querer ser professora/professor: história de vida – objetividade e subjetividade na qual apreendemos que existem funções sociais atribuídas para o exercício da docência em diferentes etapas e áreas. Essas são afirmadas por especificidades de atuação constituídas historicamente, suas justificativas e “possibilidades” reproduzem condições que perpassam o nó dialético gênero, raça, classe, bem como dicotomias, divisões no exercício do trabalho docente e do mundo do trabalho. Há uma predominância da docência como possibilidade de ascensão social com vistas ao atendimento da empregabilidade para estudantes da classe trabalhadora, mulheres e pessoas negras em condições singulares de formação inicial e continuada. Na categoria ii) Estar professora/professor: trabalho docente e o nó dialético gênero, raça e classe, chegamos à síntese de que o trabalho docente, no contexto das relações capitalistas, expressa a dinâmica de disputa pela hegemonia no interior do Estado, situando as vivências de professoras e professores nas contradições constituídas por relações sociais de gênero, raça e classe. A natureza do trabalho docente atribui a ele grau relativo de autonomia, embora submetido a ações de controle na disputa por um projeto de sociedade, escola e formação. Nesse contexto, e frente aos elementos que compõem a estrutura e a superestrutura, o vir a ser professora e professor se constitui a partir da dinâmica de relações conflituosas no interior da escola, que reproduzem o racismo, o sexismo e as condições de classe, em um processo de esvaziamento da consciência coletiva e conformação da opressão-exploração pela alienação. Com a categoria iii) O vir a ser professora/professor: naturalização e alienação, foi possível compreender que a constituição do vir a ser professora e professor pela alienação se fundamenta a partir de uma orientação fetichizada, reiterada por demandas do cotidiano, que tendem a submeter professoras e professores a sentidos de conformação e imobilismo e, assim, naturalizam diferentes momentos e instâncias de constituição social. São mediações que perpassam as histórias de vida, vivências do e no trabalho docente, situadas na base material de contradição capital-trabalho e mediadas pela dialética do nó gênero, raça e classe, sistematizando um processo de fragmentação que atinge professoras/professores e descola sua constituição e função das mediações que compõem a totalidade social. Em consequência, buscam saídas individuais em atendimento ao pragmático, o que tende a culpabilizá-las (los) por processos de exploração-opressão e esvazia o sentido social, político e ontológico do trabalho docente. Frente aos elementos apreendidos, fortalecemos a tese de que o ponto de partida para a resistência está no caráter emancipador que sintetiza a função da escola, a função docente e sua efetivação por meio da práxis, bem como a formação de professores sob princípios que fortaleçam a unidade teoria-prática. Afirma-se, aqui, a potencialidade da educação em uma dimensão ontológica e revolucionária pela categoria trabalho, enquanto princípio formativo, de constituição do ser social na concretude de base dialética do nó em movimento com as contradições sociais de gênero, raça e classe.