Prevalência de hipogonadismo de início tardio, de Síndrome metabólica e de obesidade em bombeiros militares, em associação com a aptidão cardiorrespiratória e fatores de risco cardiovascular : um estudo exploratório

Abstract

Bombeiros são expostos a diversos fatores de risco à saúde e por isso há grande preocupação com a saúde destes profissionais, particularmente os aspectos cardiometabólicos. O hipogonadismo de início tardio (HIT), caracterizado por baixos níveis de testosterona e a presença sinais e sintomas como fadiga, falta de libido e redução do desempenho físico, pode estar associado a maior risco cardiometabólico e menor qualidade de vida (QV) nestes profissionais. Além disso, baixos níveis de testosterona em homens estão comumente associados com outras condições em que há o aumento de risco cardiovascular, como a síndrome metabólica (SM) e a obesidade (Ob). Contudo, o HIT é pouco investigado, e sua prevalência é desconhecida em bombeiros. Selecionamos aleatoriamente, em uma amostra enriquecida, 328 bombeiros militares que realizaram exame de sangue e responderam um questionário que incluía perguntas sobre atividade física, QV, sinais e sintomas de hipogonadismo e qualidade do sono. Foi utilizada a técnica de ponderação pela probabilidade inversa para estimar a prevalência de HIT, SM e Ob. Dados foram descritos utilizando mediana e quartis (dados não paramétricos) e diferenças foram consideradas significativas quando p<0,05. A força da associação entre a prevalência de HIT, SM, Ob, e aptidão cardiorrespiratória (ACR) foi analisada usando o teste de qui-quadrado e a razão de chance (OR) com o respectivo intervalo de confiança de 95%. Foi analisada a correlação (Spearman) entre os níveis de testosterona total (TT) e os quatro domínios da QV, idade, índice de massa corporal (IMC), ACR e escore de risco cardiovascular de Framingham (ERF). A prevalência estimada de HIT, SM e Ob foi de foi de 3,2%, 17,0% e 16,9% respectivamente. Houve significativa associação corrigida por idade entre HIT e SM (OR 21.3; 7.0-64.2) e Ob (OR 41.7; 9.2-189.9). Houve significativa correlação entre níveis de TT e idade (rs = -0,35; p<0.01), IMC (rs = -0,46; p<0.01), VO2max (rs = 0,45; p<0.01) e ERF (rs = -0,42;p<0.01). Quanto a QV, houve correlação significativa somente com o domínio físico (rs = 0,20; p<0.01). Não houve correlação significativa com a qualidade do sono (rs = -0,05; p=0.38). Identificou-se, de modo inédito, a prevalência de HIT em bombeiros, e fatores associados. Apesar da baixa prevalência de HIT, observou-se associação a significativos fatores de risco cardiovascular como a síndrome metabólica e obesidade que podem contribuir de forma deletéria para a saúde do bombeiro militar. As prevalências encontradas, e suas associações, são especialmente preocupantes nesta população, tendo em vista as rotineiras demandas físicas e emocionais inerentes à profissão, assim como seu elevado risco à saúde.