Metamorfoses do conceito de objetividade na obra de Friedrich Nietzsche

Abstract

Este trabalho tem por objetivo analisar o conceito de objetividade presente na obra de Friedrich Nietzsche e as suas metamorfoses. Ao enfocar os sentidos da objetividade na filosofia nietzschiana, tem-se em vista estabelecer conexões entre esse conceito e temas centrais do pensamento do autor, especialmente os da relação entre arte e ciência, história e justiça, cultura e espírito científico, genealogia e perspectivismo. Assim, num primeiro momento, examina-se o pensamento do jovem Nietzsche concernente à arte, à ciência e à objetividade artística. Esta última foi, na sua obra de estreia, O Nascimento da Tragédia (1872), qualificada como “desinteressada” e isenta de quaisquer interferências subjetivas. Num segundo momento, discute-se, com foco na II Consideração Extemporânea (1874), a crítica de Nietzsche à história e à objetividade histórica, crítica essa dirigida particularmente contra Leopold von Ranke e o seu modelo de objetividade. Em seguida, mostra-se como as reflexões de Nietzsche sobre a objetividade adquirem novos contornos no contexto da sua crítica à cultura científica moderna, articulada em Além do Bem e do Mal (1886). Num último momento analítico, busca-se explorar o sentido do que Nietzsche chamou de “objetividade futura” em Genealogia da Moral (1887) e no contexto da sua discussão sobre o perspectivismo. Este trabalho parte da observação de que não há só um sentido para o conceito de objetividade no programa filosófico de Nietzsche e, portanto, procura rastrear as suas transformações. Neste contexto, pretende-se evidenciar as mudanças de sentido da objetividade e delimitar o exato momento em que Nietzsche substitui uma objetividade universal, fixa e pontual por uma objetividade particular, dinâmica e plural.