Sobrepeso, obesidade e/ ou síndrome metabólica em crianças e adolescentes antes e após o tratamento com antipsicóticos

Abstract

INTRODUÇÃO: O uso de antipsicóticos está associado a reações adversas importantes como o ganho de peso e alterações metabólicas. Considerando o público infantojuvenil, essas reações adversas possuem grande impacto na saúde, pois são fatores de risco cardiovascular, promovendo o aparecimento precoce de comorbidades como hipertensão arterial e Diabetes mellitus tipo 2. OBJETIVO: O objetivo deste estudo foi verificar a frequência de excesso de peso, obesidade abdominal e/ou síndrome metabólica em crianças e adolescentes antes e após o uso de antipsicótico (s), e o ganho de peso 3 e 6 meses após o início do tratamento com antipsicótico (s). MÉTODOS: Estudo longitudinal, observacional, prospectivo, no qual crianças e adolescentes de cinco a 18 anos incompletos, atendidos nos Centros de Atenção Psicossocial Infantojuvenil (CAPSi) – Taguatinga e Sobradinho – e no Centro de Orientação Médico Psicopedagógico (COMPP), foram acompanhados por seis meses a partir do início do tratamento com antipsicótico. RESULTADOS: Foram incluídos 21 crianças e adolescentes, dos quais 14 chegaram a 3 meses e 6 concluíram o período do acompanhamento de seis meses. Entre os 21 sujeitos recrutados, a maioria era do sexo masculino (n=13; 61,9 %), com mediana de idade de 10 (5,5; 14) anos e diagnosticadas mais frequentemente com transtornos globais do desenvolvimento (n=8; 29,6 %) e transtorno do déficit de atenção e hiperatividade (n=7; 25,9 %). A maior parte dos pacientes tinha histórico familiar de doenças crônicas (n=17; 81%), mais comumente hipertensão arterial. A risperidona foi o antipsicótico mais frequentemente prescrito (n=18; 78,3 %). Quanto ao diagnóstico nutricional no início do estudo, a maioria era eutrófica (n=14; 66,7 %) e sete (33,3 %) participantes tinham excesso de peso ou obesidade, segundo a classificação pelo percentil do índice de massa corporal (IMC). A obesidade abdominal (circunferência abdominal > p90) foi observada apenas em um indivíduo. Dos 19 pacientes que realizaram avaliação bioquímica, 14 (73,7 %) apresentaram alguma alteração nas variáveis bioquímicas, notadamente triglicerídeos, colesterol total e HDL-colesterol. Os participantes apresentaram ganho de peso mediano de 1,067 (0,4833; 2,325) e 1,35 (0,965; 2,320) kg após os respectivos períodos de três e seis meses de tratamento com antipsicótico em relação ao início do estudo. CONCLUSÃO: Foi verificada a variação de mais de um quilograma no peso dos pacientes após seis meses de uso de antipsicóticos. Ademais, observou-se alta frequência de fatores de risco cardiovascular em pacientes iniciando o tratamento, o que gera grande preocupação, devido ao fato dessa classe de medicamentos ter comprovado potencial de aumentar esses riscos. Desse modo, é evidenciado a importância do acompanhamento farmacoterapêutico com investigação previa do histórico pessoal e familiar mais rigoroso desses pacientes, com vistas a prevenção e/ou de modo a evitar o progresso do ganho excessivo de peso e complicações metabólicas.