Tornar visível o conteúdo interior, Kandinsky, um neoplatônico da Arte Moderna?

Abstract

A presente pesquisa analisa a relação entre espiritualidade e materialidade nas obras e na teoria de Wassily Kandinsky (1866-1944), a partir dos conceitos de mimesis e abstração. Partindo da compreensão de que ambos os conceitos não são teorizados pela história da arte como universais, assume-se nesta investigação que, para o artista, esses conceitos relacionam-se com o que ele denomina como conteúdo interior, que seria expresso na matéria. Para tanto, transpor a metafísica que envolve esse conteúdo no âmbito do visível requer um diálogo incessante com a ambiguidade da matéria. Na baixa Antiguidade, o filósofo egípcio Plotino (203-270 d.C) adotou uma postura antiplatônica em relação à arte, enquanto Kandinsky, na primeira década do século XX, recorreu aos vestígios da arte bizantina e da arte dos povos originários russos para estabelecer uma sintaxe própria. Nessa investigação, evidenciam-se modos de compreensão da expressão teórica e artística de Kandinsky, considerando a metafísica de Plotino, analisando imagens para dar a perceber elementos diversos pertencentes aos processos de criação. Assim, embasa-se em tratados das Enéadas de Plotino, em obras textuais e visuais de Kandinsky, em textos que são utilizados como mediadores, como a Doutrina das cores [1810], de Johann Wolfgang von Goethe e com a fortuna crítica atual de ambos, Plotino e Kandinsky, que permeiam o tema da pesquisa. Procura-se estabelecer que existe um entendimento no qual a espiritualidade atua de modo intrínseco à produção artística e teórica de Kandinsky. Destarte, buscou-se, em três capítulos, esmiuçar a sintaxe formulada pelo artista, conjecturando possibilidades interpretativas para suas obras, com o intuito de borrar as oposições entre mimesis, abstração, espiritualidade e materialidade. Ao admitir o olhar deliberadamente espiritual sobre as associações plurais feitas por Kandinsky, será possível perceber um olhar não Ocidental sobre as obras do artista russo e especular se o artista pode ser considerado um Neoplatônico da Arte Moderna.