Suscetibilidade de Aedes aegypti aos inseticidas piriproxifeno e malathion e competência de infecção por zika vírus em populações resistentes ao análogo de hormônio juvenil

Abstract

Introdução: No Brasil, o controle químico de Aedes aegypti continua sendo a principal ferramenta para prevenção de surtos de arboviroses. Monitorar a suscetibilidade do vetor aos inseticidas é importante para substituição das substâncias, caso haja resistência confirmada. Ainda, a relação entre mosquitos resistentes e a capacidade de infecção por arbovírus é pouco explorada e não está clara, principalmente por Zika vírus (ZIKV). Objetivos: Analisar a suscetibilidade de populações de Ae. aegypti aos inseticidas piriproxifeno (PPF) e malathion entre 2017 e 2018 no Brasil, assim como reavaliar a evolução da resistência ao PPF, após dois anos de exposição a aplicações bimestrais do larvicida, e investigar a relação entre mosquitos resistentes ao PPF e a capacidade de infecção por ZIKV. Métodos: Foram realizadas coletas de ovos de Ae. aegypti em 132 cidades por meio de armadilhas de oviposição. Colônias foram submetidas a testes de suscetibilidade com larvas expostas à Dose Diagnóstica (DD) de PPF (0,3 µg/L) e adultos com a DD de malathion obtida no laboratório (20 µg), além da DD indicada pela Organização Mundial da Saúde (OMS) (50 µg) em ensaio com garrafa. Posteriormente, bioensaios DoseResposta (DR) com PPF foram realizados em populações com IE < 98% para estimar a RR. Em 2020, ovos foram coletados nas cidades onde registramos resistência ao PPF anteriormente, para novos bioensaios DR. Mosquitos de populações com diferentes níveis de resistência ao PPF e uma cepa suscetível a inseticidas (Rockefeller) foram experimentalmente infectadas oralmente com ZIKV para determinar sua competência vetorial relativa. Resultados: A alteração da suscetibilidade ao PPF foi registrada em 6 (4,5%) populações do vetor, nos estados Bahia e Ceará, com Razão de Resistência (RR) entre 1,51 a 3,58. Para malathion, 73 (55,3%) populações distribuídas no país foram resistentes quando expostas à DD local (20 µg/garrafa). Por outro lado, nenhuma população foi resistente e apenas 10 (7,6%) populações apresentaram suscetibilidade reduzida (taxa de mortalidade 90 a 98%) quando a DD da OMS (50 µg/garrafa) foi utilizada. Em 2020, mosquitos de Icó, Serrinha, e Brumado apresentaram baixos níveis de resistência ao PPF (RR50= 2,33, 4,52 e 4,83, respectivamente), níveis moderados foram detectados nas populações de Juazeiro do Norte (RR50=5,83) e Itabuna (RR50=7,88), e alto nível em Quixadá (RR50=11). Embora todas as populações fossem competentes para infectar-se com ZIKV, aquelas com níveis moderados a altos de resistência a inseticidas (RI) exibiram suscetibilidade semelhante ou menor à infecção por ZIKV, comparando-se a populações de baixa RI ou à cepa suscetível. Conclusões: Registrou-se resistência ao PPF, em populações de Ae. aegypti procedentes do nordeste brasileiro, assim como a DD local para malathion (20µg/garrafa) foi mais sensível que a da OMS (50 µg/garrafa) para detectar precocemente diminuição da suscetibilidade; a evolução desta resistência pode comprometer os esforços para seu controle e o monitoramento contínuo é essencial no manejo efetivo de inseticidas. O uso do PPF para controle do Ae. aegypti pode estar associado ao benefício indireto de suscetibilidade reduzida à infecção por ZIKV, sem alterações na infecção disseminada e transmissão deste arbovirus entre fenótipos resistentes ao PPF.