Parentalidade e políticas públicas : contribuições da psicanálise e da psicodinâmica do trabalho

Abstract

A parentalidade implica em assumir uma função de cuidado a um outro que nasce em desamparo, e nessa relação, o interjogo psíquico e das intersecções sociais entram em cena. Por isso, as políticas públicas voltadas para a infância, no âmbito do Sistema Único de Saúde (SUS), investem na formação dos profissionais na temática da parentalidade voltada para as populações vulneráveis de grávidas e puérperas. O presente trabalho coloca em discussão as contribuições da psicanálise e da psicodinâmica do trabalho em uma política pública de saúde, no contexto de uma formação na temática da parentalidade. Para tanto, foram analisadas as falas dos profissionais de saúde, que reagiram às temáticas das violências inter e intrafamiliares, da exclusão social, da idealização e das ambivalências em relação à parentalidade. Foram realizadas 04 oficinas distintas com 08 turmas formativas junto aos profissionais de saúde, somando 32 encontros e, a partir dos registros em diários de campo foram realizadas, em três manuscritos, o método de análise do discurso. O primeiro manuscrito, intitulado: I. A violência no campo da parentalidade: desafios para saúde pública, discutiu os desafios do trabalho em saúde perinatal diante das intersecções sociais em contextos de vulnerabilidade, sob o tripé das categorias “gênero”, “raça” e “classe”. Por conseguinte, analisou o lugar da transmissão psíquica consciente e inconsciente e a reprodução das violências entre as gerações, bem como a violência extrafamiliar marcada pela precariedade das condições de vida. O segundo manuscrito, intitulado: II. O sentido do trabalho no campo da parentalidade: contribuições da Psicodinâmica do Trabalho, analisou o encontro com as histórias de filiação e ambivalências em relação à parentalidade, evidenciando reflexões sobre o sentido desse trabalho, propiciadas pela formação educativa. O sentido do trabalho se revelou no deslocamento da via unicamente biologicista para a dimensão implicada de subjetivação. O terceiro manuscrito, intitulado: III. Os determinantes sociais no território e impactos na saúde pública, discutiu os desafios interseccionais da vulnerabilidade econômica e violência comunitária, que repercutem nos desafios de cuidado oferecidos pelos profissionais da saúde perinatal. A formação contribuiu para promover, entre os profissionais de saúde, uma posição de escuta e de compromisso político e social nos seus atendimentos em saúde pública.