Feridas nas memórias : o traumático do racismo nos processos de subjetivação de pessoas negras

Abstract

A História nacional brasileira se funda e se desenvolve por meio da violência colonial e escravização dos povos africanos. Contudo, essa violência é constantemente negada e encoberta por meio da produção de apagamentos da memória negra e do endossamento da ideologia branca, que propaga a narrativa da democracia racial. A extrema violência colonial e a aceitação subsequente, aliadas ao racismo estrutural e cotidiano, têm um impacto traumático na subjetividade das pessoas negras. Dessa forma, objetivou-se tensionar o conceito psicanalítico de trauma no contexto do racismo brasileiro para compreender suas incidências subjetivas. A pesquisa lançou luz sobre as feridas não cicatrizadas da história brasileira, concentrando-se nos efeitos da herança colonial, abrangendo suas dimensões históricas, sociais e psíquicas, e explorando sua manifestação em uma dinâmica traumática e repetitiva de violência. As perdas e exclusões históricas da população negra estão acompanhadas da escassez material e simbólica, dificultando a representação da dor e do luto coletivo em relação ao trauma do passado-presente. Por isso, destacou-se nessa pesquisa o conceito de melancolia enquanto articulador no entendimento do sofrimento psíquico de pessoas negras que constroem seu Ideal do Eu baseados na branquitude. Desse modo, o trabalho do luto torna-se um trabalho político de memória e de elaboração do trauma. Enfatiza-se a necessidade de reconhecimento das memórias afro-brasileiras como um processo de enraizamento, uma forma de enxergar-se como sujeito histórico e projetar-se para um futuro de liberdade.