Liderança de nutricionistas, comprometimento organizacional e intenção de rotatividade em unidades de alimentação e nutrição no Brasil

Abstract

A liderança vem sendo indicada como uma competência fundamental para o exercício e crescimento da profissão de nutricionista, especialmente na área de gestão de Unidades de Alimentação e Nutrição (UAN). A precisão da percepção de liderança parece ser um pré requisito tanto para o crescimento individual do líder quanto para o crescimento organizacional e pode se dar através da auto percepção do líder e hetero percepção de seus liderados. Além das diferenças sociais entre nutricionistas e manipuladores de alimentos (MA), gerenciar equipes em UAN inclui diversos desafios pela própria natureza do trabalho e alta taxa de rotatividade. Ademais, na área da alimentação coletiva observa-se que são escassos os estudos que colhem dados a partir de questionários aplicados com manipuladores de alimentos (MA), que pode se dar pela dificuldade em colher dados com instrumentos de pesquisa que utilizam uma linguagem desajustada a real compreensão destes respondentes. Os objetivos desse estudo foram seis: 1) Analisar a relação entre liderança de nutricionistas, comprometimento organizacional e intenção de rotatividade de MA em UAN no Brasil; 2) Determinar, a partir de revisão sistemática, as principais variáveis organizacionais que a liderança influencia em restaurantes/ serviços de alimentação; 2) Adaptar escalas para o nível de compreensão de MA; 3) Verificar evidências de confiabilidade das escalas adaptadas para pesquisas futuras com MA; 4) Verificar as relações entre a autopercepção de liderança de nutricionistas e hetero percepção de liderança por MA; e 5) Investigar as correlações entre percepção de liderança, comprometimento organizacional, intenção de rotatividade e dados sócio demográficos e funcionais de nutricionistas e MA. Um modelo teórico foi construído sobre a relação entre liderança e intenção de rotatividade mediado pelo comprometimento organizacional. Para coleta de dados foram utilizados os instrumentos Escala de Auto Avaliação de Estilo Gerencial (EAAEG), Escala de Avaliação de Estilo Gerencial (EAEG), escala de Comprometimento Organizacional (CO), e Escala de Intenção de Rotatividade (EIR), que foram submetidos às etapas de: adaptação semântica, discussão das escalas em grupos focais, aplicação na amostra e análise de confiabilidade e validade. A aplicação dos questionários foi realizada por 38 voluntários treinados nas cinco regiões do Brasil. A análise estatística foi feita, inicialmente, verificando-se a validade dos fatores e consistência interna dos instrumentos, que indicaram valores de Alfa de Cronbach e Análise Fatorial Confirmatória satisfatórios para todas as escalas. Foi empregada estatística descritiva, associação dos escores com as variáveis sociodemográficas e funcionais, e o teste de hipóteses por meio da Equação Estrutural. Participaram do estudo 50 UAN, 74 líderes e 635 MA. Os resultados indicaram avaliação mais positiva de liderança auto percebida que hetero percebida. A percepção de liderança foi correlacionada significativamente ao tempo de trabalho dos MA e participação em treinamentos sobre relacionamento interpessoal. O CO dos MA foi significativamente relacionado a idade, escolaridade, estado civil e tempo de trabalho, e a IR relacionada às percepções das condições de trabalho. A análise de equação estrutural identificou relação significativa entre Liderança e IR, confirmando o efeito de mediação do CO. A pesquisa destaca a importância da adaptação de escalas por nível de escolaridade dos MA para a precisão dos dados coletados com esses respondentes, a relevância da liderança dos nutricionistas nas UAN e sua influência nos desfechos organizacionais destes serviços, a necessidade das organizações investirem em capacitações para as equipes que trabalham na produção de refeições, além de apontar para um novo caminho à área da Alimentação Coletiva, tanto em relação à produção científica quanto à formação dos nutricionistas nas instituições de ensino