Tolerância à seca e eficiência no uso da água de genótipos de café arábica

Abstract

No Brasil, a cultura do café tem grande importância econômica e social, no entanto, a produção tem sido afetada pelas condições climáticas, principalmente, devido à ocorrência de períodos cada vez mais prolongados de seca. Diante disso, o objetivo deste estudo é caracterizar genótipos de café arábica quanto à tolerância à seca e eficiência do uso da água em diferentes condições hídricas dentro da área experimental da Embrapa Cerrados, a 1000m de altitude. Cada experimento recebeu um regime hídrico com intensidade e duração diferente: IP 100 e IP 50 (irrigação plena com reposição de 100% e 50% da evapotranspiração, respectivamente); DH1 100 e DH1 50 (déficit hídrico com suspensão da irrigação de abril a setembro e reposição de 100% e 50% da evapotranspiração, respectivamente; DH2 100 e DH2 50 (déficit hídrico com suspensão da irrigação de junho a setembro e reposição de 100% e 50% da evapotranspiração, respectivamente e sequeiro (sem irrigação). Foram utilizados os genótipos Catuaí 62, E237 e Iapar 59. Foi realizada a análise conjunta de grupo de experimentos. Dentro de cada experimento, utilizou-se blocos casualidados, com quatro repetições de cada genótipo. Após o início dos tratamentos com estresse hídrico foram avaliadas variáveis fisiológicas (fotossíntese, condutância estomática, transpiração e conteúdo relativo de água - CRA), morfológicas (altura, diâmetro do caule, comprimento e número de nós dos ramos plagiotrópicos esquerdo e direito, número de nós nos ortotrópicos e comprimento da copa) e a produtividade. Foram feitas avaliações fisiológicas durante o estresse (agosto) e após o início das irrigações (setembro a outubro), onde foi avaliado fisiologicamente a recuperação das plantas. Foram avaliados também diferentes cenários de cultivo de café para a determinação da viabilidade econômica: cenário anterior aos eventos climáticos significativos e à pandemia (Cenário I), cenário com efeitos da pandemia e dos eventos climáticos (Cenário II), cenário com produtividade média nacional e produtividade média em áreas irrigadas (Cenário III) e cenário de café especiais (IV). Os resultados mostraram que durante o estresse, as plantas sob o regime hídrico IP apresentaram maiores trocas gasosas e CRA, diferentemente do que ocorreu nos tratamentos DH e sequeiro; no entanto, após a irrigação, as plantas de café sob DH recuperaram seu potencial fotossintético. Plantas de sequeiro e DH 50 tiveram uma redução de mais de 50% no CRA em comparação com IPs. As variáveis de crescimento são maiores em déficit hídrico, com resultados inferiores apenas em sequeiro. A produtividade média do cafeeiro nos diferentes tratamentos variou de 14 para 120 sc ha-1. O tratamento DH1 imposto nas plantas causou uma redução acentuada na produção dos grãos devido ao período prolongado sem irrigação. O DH2 100 resultou em florada única e uniforme com percentual de cereja superior a 80% e viabilidade econômica. Os genótipos Iapar 59 e o E237 são genótipos de alta e baixa produtividade, respectivamente. Os dados de viabilidade econômica mostram que no cenário I, apenas o tratamento sequeiro não apresentou viabilidade econômica. No cenário II devido aos preços elevados a Taxa interna de retorno (TIR) apresentou valores superiores ao cenário I. Os resultados indicam que as respostas do cafeeiro ao déficit hídrico são baseadas nos mecanismos de prevenção a seca: fechamento estomático, redução da transpiração e absorção contínua de água. Os dados de produtividade mostraram que, para esses genótipos, a duração do estresse e a redução de 50% na disponibilidade hídrica limitaram a produtividade das plantas sob estresse hídrico. Deste modo, é importante uma análise para cada sistema antes de decidir-se por investir na cafeicultura. Mais importante ainda, sob condições de sequeiro, as plantas apresentaram menor potencial fisiológico, produtivo e viabilidade econômica, indicando a importância da irrigação para sustentabilidade do cultivo de Coffea arabica no Cerrado brasileiro.