Ação do extrato aquoso da casca do tucum-do-cerrado (Bactris setosa Mart.) em células eucarióticas

Abstract

Dietas ricas em compostos bioativos possuem papel importante na prevenção de doenças. Os compostos fenólicos podem atuar como sequestradores de radicais livres, quelantes de íons metálicos, e moduladores do sistema antioxidante endógeno. Sua ação tem grande importância contra o estresse oxidativo. Polifenois podem atuar na prevenção e tratamento de alguns tipos de câncer por meio da inibição do crescimento das células tumorais. O tucum-do-cerrado (Bactris setosa Mart.) é um fruto que possui diversos compostos como vitamina C, flavonoides, antocianidinas e quercetina. Seu potencial antioxidante vem sendo demonstrado em diversos estudos. O objetivo desse trabalho foi avaliar os efeitos do extrato aquoso do tucum-do-cerrado (Bactris setosa Mart.) em células eucarióticas. Células de Saccharomyces cerevisiae selvagem e sem o fator de transcrição Yap1, envolvido na transcrição de genes de enzimas antioxidantes, foram utilizadas em ensaios de crescimento e sobrevivência. Foram utilizados os oxidantes menadiona (5 e 15 µM) e peróxido de hidrogênio (0,5 e 1 mM). O extrato do tucum-do-cerrado foi testado em concentrações de 10-150 µg/mL. Modelos de células cancerígenas intestinais, fibroblastos intestinais e organoides do jejuno humano foram avaliados quanto a viabilidade celular após serem expostos ao extrato aquoso de tucum. Os níveis de mRNA das enzimas antioxidantes superóxido dismutase (SOD), catalase, glutationa peroxidase (GPx), dos fatores de transcrição NF-E2-related factor 2 (Nrf2) e da subunidade alfa do fator 1 induzível por hipóxia (HIF-1α), envolvido na transcrição de diversos genes, incluindo genes envolvidos na angiogênese, foram avaliados. As concentrações de 15 µM de menadiona e 1 mM de H2O2 resultaram em menor crescimento e sobrevivência em S. cerevisiae. O extrato do tucum não prejudicou o crescimento e sobrevivência de S. cerevisiae em nenhuma concentração testada, além de exercer efeito protetor no crescimento de células selvagens expostas a menadiona e ao H2O2. O mesmo efeito não foi observado em células sem Yap1, onde o extrato de tucum não protegeu contra a exposição ao H2O2. Os resultados indicaram que a ação protetora do tucum contra o estresse oxidativo promovido por H2O2 depende da presença de Yap1. Para as células intestinais, o extrato do tucum na concentração de 1 mg/mL reduziu a proliferação celular de células Caco-2, mas não de organoides do jejuno e de fibroblastos. Esse resultado indica uma ação específica do extrato para as células cancerígenas. Na concentração de 0,5 mg/mL, o extrato foi capaz de aumentar a produção mitocondrial de superóxido e de reduzir os níveis de mRNA das enzimas SOD, catalase e GPx e dos fatores de transcrição Nrf2 e HIF-1 (subunidade α) , mas não da sintase de óxido nítrico. Embora os níveis de mRNA tenham sido reduzidos, a expressão proteica da MnSOD e catalase se mantiveram em níveis próximos ao do grupo controle. Os resultados encontrados sugerem que a ação do extrato de tucum nas células Caco-2 está relacionada ao aumento do estresse oxidativo causado pelo aumento do superóxido e manutenção das enzimas antioxidantes em níveis normais.