Efeito da eletroestimulação transvaginal nos tecidos do assoalho e de órgãos pélvicos de ratas wistar multíparas e nulíparas

Abstract

O assoalho pélvico (AP), formado por músculos e fáscias, é o responsável pela sustentação dos órgãos abdominopélvicos, com papel importante na continência urinária/fecal/anal, no fechamento do hiato urogenital e no funcionamento sexual. Alterações estruturais e/ou funcionais do AP pelo envelhecimento, parto vaginal, pela multiparidade, obesidade e outros fatores de risco, podem causar as disfunções como as incontinências e os prolápsos. O tratamento para essas disfunções pode ser cirúrgico ou conservador. A eletroestimulação (EE), um recurso da fisioterapia, vem sendo usada como tratamento conservador e consiste na aplicação de estímulos elétricos intermitentes de baixos níveis de corrente que causam a contração muscular. Entretanto, carecem estudos que avaliem os efeitos da EE diretamente nos tecidos da região pélvica e do períneo. Assim, esse estudo avaliou o efeito da eletroestimulação transvaginal (EV) na histomorfometria dos músculos do AP (MAPs) e nos tecidos associados à vagina, uretra e ao reto de ratas Wistar multíparas e nulíparas. Trata-se de um estudo descritivo, analítico, comparativo, experimental e prospectivo longitudinal, realizado em ratas Wistar multíparas (n=10) e nulíparas (n=10) com 12 meses de idade. A EE (30 sessões) foi feita com sonda intravaginal com corrente bifásica, largura de pulso de 700 ms, frequência de 50 Hz e intensidade de 2 mA. Os dados histomorfométricos foram obtidos nos tecidos epitelial, conjuntivo e muscular em espécimes histológicos pélvicos processados com técnicas de rotina e corados com hematoxilina e eosina, tricrômico de Gomori e imunomarcação com Ki67. Os resultados mostraram que a EV: 1) aumentou a força de contração dos MAPs em nulíparas e multíparas; 2) aumentou a espessura dos MAPs (hipertrofia muscular) em nulíparas e multíparas; 3) não aumentou a espessura do epitélio de revestimento da vagina das nulíparas e multíparas, em relação aos seus grupos controle, mas aumentou na uretra das multíparas; 4) aumentou a espessura do tecido conjuntivo associado aos três órgãos pélvicos nas nulíparas e multíparas; 5) aumentou a espessura da camada de tecido muscular liso da vagina, uretra e do reto nas multíparas, assim como da uretra e do reto nas nulíparas; 6) aumentou o total de leucócitos/200 µm2 nas mucosas das nulíparas e multíparas; 7) aumentou o total de fibroblastos/fibrócitos/700 µm2 nas mucosas das multíparas em relação aos demais grupos; 8) produziu uma maior imunomarcação com Ki67+ em células epiteliais basais, endoteliais, musculares lisas e em fibroblastos nas multíparas, na comparação com seu grupo controle; 9) produziu uma maior imunomarcação com Ki67+ em células satélites dos MAPs das nulíparas e multíparas. O conjunto dos resultados demonstraram que a aplicação de 30 sessões de EV, nos parâmetros utilizados, favoreceu o ganho estrutural/funcional, sobretudo, nos tecidos conjuntivo e muscular, refletindo no aumento da força de contração muscular do AP. Concluindo, esses resultados mostraram uma efetividade da EV em ratas Wistar multíparas e nulíparas, que pode contribuir para reforçar seu uso na clinica médica visando o fortalecimento do AP e manutenção da continência pelos órgãos pélvicos nas mulheres, que são as mais comumente atingidas pelas disfunções do AP.