Representação da população em situação de rua nos textos opinativos da Folha de S. Paulo ao longo de uma década (2011 a 2020)

Abstract

Esta tese apresenta resultados de pesquisa sobre a representação da população em situação de rua nos textos opinativos publicados pela Folha de S. Paulo ao longo da década de 2011 a 2020. Fazem parte do corpus 108 textos, sendo dez textos publicados em Editoriais, 41 em Tendências e Debates e 57 no Painel do Leitor, incluídas as 81 imagens publicadas nesses três cadernos. Esse corpus, que foi organizado com o auxílio do software NVivo, representa a totalidade dos textos opinitavos tematizando a situação de rua publicados pela Folha no período pesquisado. Estudar gêneros opinativos é relevante porque representam a posição do jornal (Editorial), de especialistas (Tendências e Debates) e de leitoras e leitores (Painel do Leitor), sendo, portanto, uma amostra de como diversos atores com diferentes visões no mundo constroem representações acerca da situação de rua. A necessidade de entender mais sobre o processo de produção discursiva da Folha de S. Paulo nos gêneros opinativos motivou entrevista com o editor-adjunto de Opinião Cesar Camasão, que foi indicado pelo jornal para essa interlocução. Este estudo, que está baseado numa perspectiva crítica e transdisciplinar, ancorado nos Estudos Críticos do Discurso (ECD), explorou a articulação, para a análise de textos, de duas abordagens: a dialético-relacional (Fairclough, 2001, 2003) e a sociocognitiva (van Dijk, 2012, 2015, 2016, 2017), em diálogo com autores/as latino-americanos/as (Resende, 2019, 2020; Vieira, 2020; Macedo, 2022; Pardo, 2019; Fox, 2021). Outra perspectiva explorada foi a Gramática do Design Visual (GDV), voltada para as investigações das imagens que compõem os textos do corpus. As análises de metáforas (Charteris-Black, 2004;Resende, 2020), da categoria interdiscursividade (Fairclough, 2001, 2003), da estratégia do quadrado ideológico (van Dijk, 2015, 2017) e da GDV (Kress, van Leeuwen, 2021) foram reveladoras dos sentidos expressos nos textos opinativos sobre a situação de rua. As análises apontam que a população em situação foi representada principalmente em termos de benefício, ocupação, invisibilidade, objetificação, perigo e doença. Essas representações negativas fazem parte de estratégias discursivas contra o grupo, naturalizando medidas violentas que são tomadas contra ele. Os discursos mapeados no corpus foram: da desigualdade social, da assistência social, do medo e da imobilidade. Eles corroboram para a perpetuação da situação de rua como questão social com que a agenda pública pouco se engaja, a não ser em termos de segurança. Imagens no corpus acrescentam uma dimensão generalizante da situação de rua. São fotos que focam mais os espaços públicos e que não promovem empatia entre leitores/as e quem vive em situação de vulnerabilidade.