Formação de biofilme e outros fatores patogênicos de S. Aureus e demais bactérias cocos gram-positivas isoladas de queijos minas frescal artesanalmente produzidos e comercializados no DF

Abstract

A presença de microrganismos patogênicos como o Staphylococcus aureus é responsável por ocasionar diversos prejuízos significativos na bovinocultura leiteira e na indústria de laticínios, devido a seus inúmeros fatores de virulência, como a formação de biofilme e resistência antimicrobiana. Biofilmes são agregados estruturados de microrganismos embebidos em uma matriz de polímeros extracelulares que se aderem a superfícies bióticas ou abióticas. A formação de biofilme por bactérias é um importante fator de virulência e a sua produção está amplamente relacionada a presença de bactérias estafilocócicas e outras cocos Gram-positivas na indústria de laticínios e produção animal. A contaminação bacteriana em queijos tipo Minas frescal é facilitada por diversos fatores. Na produção artesanal utiliza-se leite cru, que sob práticas operacionais inadequadas de higiene de equipamentos das indústrias de laticínios e na presença de mastite bovina, pode conter ainda maior carga de microrganismos potencialmente patogênicos. O objetivo da pesquisa foi determinar a presença de S. aureus e outras bactérias cocos Gram-positivas em queijos Minas frescal produzidos de modo artesanal adquiridos na região do DF, identificar seus fatores de virulência como a capacidade de formação de biofilme in vitro, correlacionando com demais fatores de patogenicidade pesquisados, dentre eles a resistência a antimicrobianos. Foram analisadas 20 amostras de queijos Minas frescal do tipo artesanal e fracionado. A pesquisa envolveu cultura em ágar sangue e em meios seletivos; visualização por microscopia óptica; testes laboratoriais bioquímicos; teste laboratorial de Coagulase em lâmina; teste de Difusão em Disco para antibiograma; análise de formação de biofilme pelos métodos de adesão em microplaca (com 24 e 48h) e ágar vermelho Congo (CRA); e técnicas moleculares de PCR para identificação de genes nuc e blaZ. De dez amostras foram isoladas onze cepas de bactérias cocos Gram-positivas: quatro Staphylococcus spp., quatro S. aureus (confirmados pela determinação do gene nuc), um Enterococcus spp. e dois Streptococcus spp. Dois S. aureus foram positivos para a presença do gene blaZ e dois foram considerados coagulase-positivos pelo teste fenotípico de Coagulase; dois S. aureus e um Staphylococcus spp. foram resistentes à penicilina G no teste de Difusão em Disco, assim como os dois Streptococcus spp. O Enterococcus spp. foi resistente a vários antibióticos, exceto aos beta-lactâmicos. A capacidade de formar biofilme pelo método CRA foi positiva para dois S. aureus, um Staphylococcus spp., o Enterococcus spp. e para os dois Streptococcus spp. Pelo método de adesão em microplaca em 24h, com exceção do Enterococcus spp. que apresentou como moderada, os demais apresentaram forte capacidade de produzirem biofilme; e com 48h, a capacidade diminuiu para alguns microrganismos. A presença do gene nuc é um marcador genético específico para a identificação de Staphylococcus aureus, auxiliando na confirmação de alguns desta espécie isolados dos queijos deste estudo; dois deles apresentaram o gene blaZ que está ligado à resistência a antibióticos beta-lactâmicos. A resistência à penicilina G foi observada fenotipicamente por alguns microrganismos e todos os estafilococos foram considerados como fortes na habilidade em formar biofilme. Apesar desta relação, o tamanho amostral foi pequeno para correlacionar fatores de virulência bacterianos encontrados, como a produção de biofilme, com a resistência antimicrobiana. Entretanto estudos recentes relatam tal associação e, com isso, dificuldades no tratamento de bovinos acometidos com mastite e a persistência e recorrência desta infeção, além de propiciar a contaminações de produtos lácteos levando a prejuízos das indústrias de laticínios, da produção animal e ao risco à segurança alimentar dos consumidores. O estudo forneceu base para a compreensão da habilidade de bactérias cocos Gram-positivas em produzir biofilmes, estudos in vivo e maior número de amostras, além de técnicas moleculares de avaliação de formação de biofilme e resistência antimicrobiana, seriam necessários para conclusão do grau de patogenicidade de microrganismos isolados de queijos Minas frescal artesanalmente produzidos e vendidos no DF. Esta pesquisa reflete a atenção que deve ser dada a melhores condições sanitárias em instalações de bovinocultura leiteira e de produção de laticínios, onde boas práticas de higiene de pequenos produtores e funcionários de fazendas e de comércios e feiras locais se fazem mais necessárias.