Participação dos estudantes guineenses no processo seletivo da Unilab : a importância do domínio de redação de artigo de opinião

Abstract

A República da Guiné-Bissau é um país africano com vários problemas institucionais. Dentre eles, o do sistema educativo nos parece o mais notável ao ponto de ser assim considerado, pela UNESCO (2016), como um dos mais frágeis da África. Essa situação de frágil sistema educativo, com uma só universidade pública e poucas outras instituições privadas de ensino superior, num sistema em que os alunos pagam mensalidades para cursar a graduação, fez com que muitos estudantes guineenses, ao terminarem o ensino secundário, procurassem viajar para o exterior a fim de cursar uma graduação, já que poucas famílias têm condições de pagar mensalidades de seus filhos no ensino superior. Nesse desejo de estudar na diáspora, a Universidade da Integração Internacional da Lusofonia Afro-Brasileira (UNILAB), que realiza anualmente um processo seletivo para admissão de novos alunos internacionais de Países Africanos de Língua Oficial Portuguesa (PALOP), tornou-se uma oportunidade para a realização de sonhos de muitos jovens guineenses. Este trabalho procurou investigar os desafios que estudantes guineenses enfrentam ao longo do processo seletivo de estudantes estrangeiros da UNILAB. Epistemologicamente, a pesquisa situa-se na área de Linguística Aplicada, trazendo teorias que debruçam sobre gêneros textuais, considerando que a redação de artigo de opinião é uma das principais provas de admissão da UNILAB. Metodologicamente, a pesquisa caracterizou-se como um estudo de caso numa abordagem qualitativa. Foram utilizados 2 (dois) instrumentos na coleta de dados: entrevista e redações de candidatos. Na entrevista, procuramos saber sobre as dificuldades que os participantes passaram ao longo do processo seletivo, considerando suas formações no ensino secundário. Na redação foi analisado como os participantes usam operadores argumentativos no texto, baseado em Koch e Elias (2016). Para análise, embasamos em teoria de análise temática defendida por Minayo (2007). No final, os resultados das redações mostram bem que os participantes aprenderam uma fórmula de escrita para o concurso e não para a vida. Por outro lado, ao longo das suas falas na entrevista, foi constatado que, na Guiné-Bissau, o ensino de produção escrita ocupa pouco espaço nas aulas de Língua Portuguesa em detrimento do ensino da gramática normativa, o que acaba levando muitos estudantes guineenses a pagar cursos particulares para poder participar do processo seletivo da UNILAB. Chega-se à conclusão da importância do ensino da produção de gêneros textuais nas aulas de Língua Portuguesa na Guiné-Bissau, considerando que a língua é forma, sentido e uso (GONZALES; QUEVEDO-CAMARGO, 2017) e o ensino da gramática normativa parece cumprir parcialmente aquilo que é esperado dos professores de língua na atualidade.