Arte-educação e experiências artísticas nas Escolas-Parque de Brasília : concepções e transformações no tempo

Abstract

Pensar acerca das escolas-parque de Brasília é remontar um pouco da história da Capital brasileira e também rememorar um anseio que ainda não pôde ser desenvolvido em sua plenitude. Contudo, o projeto dessas escolas representa um ideal ambicioso quanto às transformações educacionais e sociais, dotado de pressupostos filosóficos e de uma intencionalidade expressa nos detalhes do espaço, da arquitetura, da relação com a comunidade e a cidade e no entrosamento das crianças com a arte, o lazer e com os seus próprios corpos. Dessa maneira, curiosas por conhecer como essa inventividade caminha em seus diferentes tempos, almejamos analisar, em uma perspectiva comparada, as ideias originárias para as escolas-parque acerca das experiências artísticas e suas transformações na contemporaneidade. Referenciadas no filósofo pragmatista norte-americano John Dewey (1936, 1946, 1980, 1998, 2002, 2005, 2007, 2010, 2011, 2012, 2015) e no educador brasileiro Anísio Teixeira (1925, 1959, 1961, 1967, 1996, 1999, 2000, 2007, 2011), partimos da seguinte problemática: como os ideários pioneiros das escolas-parque de Brasília dialogam com as percepções dos arte-educadores acerca das experiências artísticas na contemporaneidade dessas instituições? Para tal, realizamos uma revisão sistemática da literatura e análises documentais, bem como empreendemos entrevistas semiestruturadas com nove arte-educadores da Escola Parque da 313/314 Sul. O estudo tem natureza qualitativa e aporta-se na abordagem dos estudos comparados em educação entre os tempos. Para a significação interpretativa das entrevistas, estabelecemos ainda uma interface com a análise pragmática da conversação. Os resultados de nosso estudo indicam que as concepções originárias das escolas-parque para a arte-educação e para as experiências artísticas almejavam contribuir para a formação ampla dos estudantes, de maneira a torná-los aptos às transformações da vida e ao exercício democrático. Esse arranjo constituía um lócus de poiesis educativa e se poria como uma referência para a educação nacional. Diante da diversidade cultural que se estabeleceu em Brasília, as escolas-parque, via arte-educação, se forjaram como um espaço para o entrelaço de culturas e construtor de uma identidade para a cidade de Brasília, além de mediar a autoexpressão, a liberdade, a resistência e a emancipação. Com as mudanças das perspectivas políticas e educacionais no país, que decorrem também de uma agenda mundial neoliberal, o período contemporâneo é marcado pelas mudanças no formato de atendimento das escolas-parque e pela inserção dessas instituições em planos e metas nacionais. Com a (re)implementação da educação em tempo integral, desafios e atravessamentos se puseram à arte-educação e às experiências artísticas.