Daquele ponto em diante, a melodia ascendeu e levou consigo todos os que a ouviam. Para qual reino? : quatro claves, quatro leituras, quatro melodias e uma poética em “The Father’s Tale” de Michael David O’Brien

Abstract

Como indica o título desta tese, proponho uma leitura de The Father’s Tale, romance mais longo de Michael David O’Brien, mediada por quatro claves hermenêuticas. Uma vez que se trata de um trabalho de crítica literária, tal proposta envolve uma abordagem fenomenológica pautada pela estética teológica, que influenciará, especialmente, na leitura metaforicamente musical do texto. Considero que o principal tema de The Father’s Tale versa sobre a reconciliação do protagonista, Alexander Graham, com a dupla paternidade – humana e divina. A percepção sonante da narrativa de O’Brien é derivada da compreensão de que a mesma é composta por quatro temas que existem, simultaneamente, em um todo harmônico. Em outras palavras, trata-se de uma invenção a quatro vozes. Para a análise, apresento quatro capítulos concatenados, onde proponho, respectivamente, quatro harmônicas chaves de leitura para o texto de O’Brien. Primeiramente, analiso a relação entre a temática da narrativa de viagens e os deslocamentos empreendidos pelo personagem no resgate de seu filho e concluo que o romance faz uso da representação do espaço real por meio da utilização de símbolos que, ao se conectarem à nostalgia, impedem que a consciência de Alexander se fragmente e reforçam nele o sentido da missão a que se propôs. Em seguida, apresento uma investigação acerca da intertextualidade literária, presente através de alusões e referências explícitas, que revelam o comportamento e a interioridade do personagem, que é um ávido leitor. Considero que a menção mais importante seja a presença da Parábola do Filho Pródigo, que está vinculada ao grande tema da redescoberta e reconciliação com a paternidade. Por conseguinte, perscruto os emblemas da paternidade celestial mediante a exploração da noção de Deus no âmbito do cristianismo. Por meio do dogma trinitário, mostro como a paternidade tem sua origem na Primeira Pessoa da Santíssima Trindade e pontuo que São José funciona como um arquétipo – espiritual e literário – que fará a mediação entre Alexander Graham e a paternidade com a qual ele quer se reconciliar. Dos assuntos apresentados no terceiro estudo deriva a escrita do quarto capítulo, onde desenvolvo, através dos sintagmas liberdade, criatividade, alteridade, amor e singularidade, os temas do personalismo filosófico e do desejo mimético, que dizem respeito às relações triangulares do personagem com aqueles que ele encontra no decorrer de sua longa viagem. Logo, foi-me possível perceber que o tema da redescoberta da paternidade é composto pelo harmonioso contraponto das melodias dos quatro assuntos explorados. Das análises propostas em cada capítulo, afirmo, por fim, que esta tese apresenta um estudo relevante sobre as relações entre escrita literária e espiritualidade por meio da pesquisa do romance de um autor contemporâneo.