Trajetórias familiares e escolares de estudantes com deficiência visual no Ensino médio do Distrito Federal

Abstract

A presente tese de doutorado está vinculada à linha de pesquisa Estudos Comparados em Educação (Ecoe) do Programa de Pós-graduação em Educação (PPGE) da Faculdade de Educação (FE) da Universidade de Brasília (UnB) e foi desenvolvida no âmbito do Grupo de Pesquisa Gerações e Juventude (Geraju). Objetivou compreender a inclusão escolar e as mediações familiares nas trajetórias de estudantes com deficiência visual matriculados no ensino médio público do Distrito Federal (DF). A relevância desta pesquisa se direcionou pela investigação dos percursos dessas famílias, reconhecendo a centralidade do estudante cego e/ou com baixa visão no processo educativo no DF. Partiu-se da compreensão de que a acessibilidade é elemento crucial para autonomia e dignidade da pessoa com deficiência e da necessidade de conceber as formas como as instituições escolares e as famílias se estruturaram para que os estudantes alcançassem a última etapa da educação básica nacional. Levou-se em consideração que as famílias vivem e transitam na sociedade permeada por distintas culturas. Suas concepções se constituem em mecanismos que podem explicar a lógica de tomadas de decisão e posição em situações de interação social para o estudante com deficiência. Para alcançar os objetivos propostos, a investigação apoiou-se na abordagem qualitativa reconstrutiva e teve como foco a análise de grupos de discussão, realizados em formato virtual, em função do contexto da pandemia de covid-19, e interpretados pelo Método Documentário. As distintas fases de interpretação do referido método possibilitaram a constatação de que: o apoio e acompanhamento familiar foram determinantes para o ingresso e a permanência dos estudantes nos percursos escolares; as famílias compartilham um universo homólogo de experiências em que a manutenção da responsabilidade de cuidado e escolarização do(a) filho(a) com deficiência visual fica a encargo das mães; e há vivências de barreiras estruturais e atitudinais pelas famílias e por seus filhos(as). Esses impedimentos refletiram em superproteção familiar, implicações na inclusão social e educacional e tentativas de maior autonomia pelos estudantes. Compreendeuse que o trabalho pedagógico requer um atendimento multidisciplinar que atente para as especificidades dos estudantes, sendo urgente e necessário o fortalecimento do atendimento educacional especializado durante e após o ensino fundamental. Evidenciou-se que o isolamento social demandado pela pandemia de covid-19 forçou a utilização de recursos de tecnologia e que tais artefatos e a internet trouxeram aos estudantes possibilidades e expectativas em termos de estudo, lazer e inclusão, já que as aulas virtuais possibilitaram que os jovens se sentissem em condições de igualdade com os demais, uma vez que a deficiência não se mostrava aparente. Verificou-se que o acesso das pessoas com deficiência visual à educação é uma realidade, ou seja, é um direito humano que tem sido conquistado por meio de um processo histórico e permanente de lutas e pela positivação de normativas. Entretanto, o trabalho investigativo aponta que é preciso um esforço coletivo para combater e opor-se às práticas segregacionistas e capacitistas que emperram a inclusão, devendo-se reconhecer possibilidades e potencialidades, bem como garantindo acessibilidade, equidade e condições dignas de vivência aos estudantes com deficiência.