O teatro de Oswald Barroso : o popular e a experiência trágica

Abstract

O teatro do dramaturgo cearense Oswald Barroso foi arquitetado e desenvolvido a partir da experiência com grupos de teatro amador, de vivências reais, e do estudo/pesquisa de elementos da cultura popular nordestina. Ao articular teatro, poesia, elementos da cultura popular nordestina, questões políticas, causas sociais e pessoas/acontecimentos que ficaram à margem da história oficial do Brasil, Barroso estabelece um diálogo entre o teatro moderno/contemporâneo e a tradição para expor os dramas sociais, inserindo o seu teatro em uma arte e uma literatura dramática comprometida. Esta pesquisa procura analisar como a produção dramatúrgica barrosiana, iniciada na década de 1970, em plena ditadura militar brasileira, coloca em evidência uma “estrutura de sentimento” de denúncia política e social e desvelamento das ordens e das desordens oriundos da relação entre sujeitos sociais e o poder autoritário do Estados. Neste sentido, no conjunto de vinte e uma peças, que vão desde 1975 até 2011, focamos em três obras: Auto do Caldeirão (1986), Vaqueiros (1999) e Dormir, talvez sonhar (2003). Nessa construção da tessitura dramatúrgica, Oswald Barroso utiliza elementos da cultura popular nordestina, fatos históricos ou baseados em acontecimentos reais, a fim de evidenciar a intolerância dos poderosos e a opressão realizada pelos mais fortes sobre os mais fracos. Assim, a fim de respaldar tal análise, utilizamos, sobretudo, as ideias do sociólogo e crítico de arte, Raymond Williams, para quem o trágico é condicionado cultural e historicamente e não deixamos de nos apoiar em estudos sobre a cultura popular e teorias teatrais.