AIDS-entretenimento : a genealogia e os ecos sociossemióticos de um dispositivo da aids em redes sociais na internet

Abstract

Esta pesquisa objetiva reconstituir a genealogia de um dispositivo que emerge no contexto da cultura de massas na década de 1980, produzindo e circulando transnacionalmente produtos midiático-culturais sobre a aids. A outra faceta da investigação foca nos ecos sociossemióticos desse dispositivo: eles se materializam em redes interacionais e nos processos de construção/contestação político-identitária realizados por ativistas e influenciadores digitais brasileiros que utilizam a plataforma de compartilhamento de conteúdo e rede social multimídia Instagram, cuja temática do perfil seja focado em HIV/Aids. Para isso, é preciso considerar que, desde 1980, as epidemias de aids geraram crises de âmbito político, cultural, social, econômico e moral, extrapolando a esfera da doença nos níveis biomédico e epidemiológico. Organizou-se uma imensa rede constituída por saberes científicos (de diferentes disciplinas) e não científicos, por instituições governamentais e não governamentais, por serviços médicos específicos, por movimentos sociais e redes de discriminação. A investigação utiliza referenciais teórico-metodológicos dos Estudos Críticos do Discurso, sobretudo a Análise de Discurso Crítica e a Análise de Dispositivo (Chouliaraki; Fairclough, 1999; Fairclough, 2003a, 2016a; Jäger, 1993; Jäger; Jäger, 2007; Jäger; Maier, 2016; Kress; Leeuwen, 2021; Resende, 2019; Resende; Ramalho, 2016), em diálogo com os estudos sobre Cultura de Massa e Cultura de Mídia, Cibercultura e Redes Sociais (Morin, 1997; Lévy, 1999; Han, 2018a, 2018b, 2019; Recuero; Bastos; Zago, 2020; Di Felice, 2020; Sibilia, 2016) e com os Estudos Queer e pósestruturalistas (Butler, 2008, 2015a, 2015b, 2019, Grunvald, 2009; Sáez, 2007; Preciado, 2018). A primeira etapa desta pesquisa empreende o mapeamento da aids como símbolo coletivo, por meio da cartografia documental de produtos midiático-culturais de fontes variadas, de épocas, gêneros discursivos, nacionalidades e temáticas diversas, tendo em comum o tema HIV/Aids (obras literárias, fílmicas, materiais publicitários, pedagógicos e de comunicação de movimentos sociais etc.). A fase seguinte foca na geração de dados de pesquisa em ambientes virtuais, por meio de netnografia discursiva, partindo do princípio de que a pesquisa investiga o que entendemos por “realidade social big data”, isto é, o tecido digital não como uma extensão do mundo offline, mas como uma realidade ontológica com estrutura social peculiar. Os dados de pesquisa geradas por netnografia na plataforma de rede social Instagram, em confluência com o uso de técnicas etnográfico-discursivas, objetivam contemplar aspectos da produção, circulação e apreciação estético-discursiva dos vídeos selecionados. Esses dados são analisados com base no repertório teórico-metodológico da ADC e nos diálogos transdisciplinares com os Estudos Queer e os de Cultura de Massa e Cibercultura. A compreensão desse complexo processo de embate social, interação a partir de redes e construção político-identitária é fundamental para a ressignificação e a potencialização das estratégias de resistência e enfrentamento às epidemias de HIV/Aids no Brasil.