Tem um corpo nessa cor : um estudo das performances narrativas das crianças da educação básica como modo de abordar as relações raciais e o racismo no ambiente escolar

Abstract

Esta pesquisa tem como objetivo central compreender como as crianças negras e brancas narram suas experiências raciais nos contextos da escolarização pública, apoiada em uma abordagem interdisciplinar, que articula saberes sobre a negritude, a branquitude e o racismo, a interface entre os Estudos da Performance e a Educação, e a Sociologia das Infâncias. O trabalho de campo foi realizado com duas turmas do quinto ano do Ensino Fundamental, compostas por crianças com a faixa etária entre 10 e 12 anos, da EC 04 do Paranoá, região periférica do Distrito Federal, nos meses de maio e junho de 2022. O percurso metodológico, pensado para ser guiado por uma prática planejada, foi desnorteado pelas corporalidades das crianças, que, nas brincadeiras organizadas, nas dinâmicas interativas, nos jogos teatrais e nas experimentações cênicas, performavam suas narrativas acerca dos racismos, por intermédio de uma etnografia afetivo-performativa instrumentalizada pelo próprio corpo infante. Nesse sentido, as performances narrativas contextualizadas e produzidas pelos estudantes, nos diversos formatos – áudios, cenas, fotografias, desenhos, registros escritos –, compuseram as expressões cênicas de suas emoções, sentimentos e percepções acerca de suas experiências racializadas, nas quais os seus corpos comunicaram muito além das palavras. A análise interpretativa e inferencial dessas performances aponta a potência comunicativa da criança que narra sua própria história, (re)conta o passado vivo em sua memória e, assim, protagoniza e ressignifica sua experiência no agora. Configura-se, assim, a compreensão dos caminhos de explicitação das relações racializadas que afetam os corpos das crianças na educação básica. Um entendimento que, enquanto saber incorporado, exige uma percepção mais atenta, compreensiva e sensível entre os adultos e as crianças na escolarização; a aproximação da realidade cotidiana delas com o contexto escolar e, principalmente, a efetiva percepção e acolhida pela escola dos impactos causados pelo racismo estrutural e institucionalizado na vida emocional e cognitiva das infâncias negras.